quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O pai dos punks - Entrevista de Jello Biafra para a revista Playboy.

Jello Biafra, ex-líder do Dead Kennedys, vem ao Brasil mostrar The Audicity of Hype, disco de sua nova banda, The Guantanamo School of Medicine, e fala sobre idade, política e um curioso encontro no Rio de Janeiro, em 1992.



Revista Playboy: O que acha que soa diferente nesse primeiro álbum com a The Guantanamo School of Medicine dos demais trabalhos que você já fez?

Jello Biafra: Eu não analiso as coisas dessa forma, eu simplesmente as faço. Se algumas pessoas pensam que canções desse novo disco soam como Dead Kennedys, não vou fugir da comparação, escrevi boa parte das canções da banda. Acho que tenho um estilo de compor que acrescenta psicodelia ao som, o que resulta em algo que não é tão comum em bandas punk.

RP: Depois de tantos anos na estrada, você se sente diferente quando senta para escrever uma canção hoje?

JB: Sou um animal político a qualquer tempo. Escrevo sobre o que acredito que é interessante e importante. Claro, há algo pessoal na música, mas não quero desperdiçar boas canções com coisas que não gosto de ouvir em outros artistas. Eu tento atacar o sistema por ângulos diferentes das outras pessoas. Quando produzo um álbum estou mais interessado em sentimento, impacto, vibração do que ter todas as notas de um instrumento perfeitamente bem tocadas.

RP: Aos 52 anos, você se sente velho no meio do punk rock?

JB: Às vezes acho engraçado quando olho para trás e penso o número de shows no underground nos quais eu era a pessoa mais velha na plateia. Algumas vezes 15, 20 anos mais velho! Mas isso é uma coisa boa. Nunca deixei de ser um fá de música, gosto do lado selvagem do rock’n’roll, o que me leva, claro, ao punk rock. Acho que a questão principal sobre idade é que hoje preciso me exercitar mais entre os shows, para que possa fazer o que faço no palco.

RP: Incomoda ser tratado com reverência no meio do punk rock, um lugar não muito apropriado para culto a ícones?

JB: Acho que trabalhei duro o bastante e arrisquei bastante o meu pescoço para esperar que hoje seja tratado com algum respeito. Essa coisa de ícone vai e volta, nos primeiros anos isso não era comum, qualquer pessoa que tinha um papel importante no palco não podia agir como uma estrela fora dele. Começou a mudar mais tarde, com o punk mais comercial, quando todo mundo queria que seus amigos curtissem sua música logo nos primeiros shows e media sua popularidade pelo apoio de companhias de skate, de tênis ou de cervejas. Era a maneira deles acharem que estavam sendo bem sucedidos como artistas, o que eu sempre achei que cheirava muito mal.

RP: Você se candidatou a prefeito de São Francisco no fim dos anos 1970. Já pensou de verdade em se candidatar a presidente, e qual seria sua primeira medida, uma vez eleito?

JB: Eu fui candidato a presidente, um pouco pelo menos, em 2000, quando o pessoal da convenção de Nova York do Partido Verde me chamou para ser candidato ao lado de Ralph Nader, e eles nem perguntaram se era filiado o partido. Eu era, por sorte. Mas não concorri de verdade, primeiro porque não tive tempo, depois porque não queria competir com Nader, eu era eleitor dele. Mas achei que era uma boa ideia deixar meu nome nas primárias de alguns estados, as pessoas que me conheciam mas não conheciam o Nader nem o Partido Verde poderiam ter um estímulo a mais para sair de casa, se registrar e votar. Acho que a primeira coisa que faria seria chamar os militares no Iraque e no Afeganistão imediatamente de volta. Outro ato imediato seria usar o poder presidencial para reduzir ou tirar da cadeia todos os que estão condenados por uso de drogas. O problema é que o presidente só pode fazer isso com prisioneiros federais, e a maioria das pessoas presas com maconha e afins são prisioneiros estaduais, logo eu teria de convencer os governadores a fazer o mesmo. Também seria bastante tentador virar as costas para a Nafta e mandar um “foda-se” para a Organização Mundial do Comércio de uma vez por todas.

2 comentários:

  1. bom, bom, li alguma coisa sobre ele tocando por aqui mas não sacava esse bichos ae não, devem ser bons mesmo, jello nunca cagou o pau com som ou atitude (o que é raro fudido), ele consegue falar de coisas chatas de uma forma inebriante.

    a merda é ver essas galeras morrendo, o cara do sister of mercy, do cramps, os ramones... mas biafra tem jeito que ainda vai disseminar muito sarcasmo por aí

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  2. Complicado alguém que se candidata a prefeito ser considerado "o pai dos punks".
    O punk no início realmente foi limitado a música, visual e afins(e o dead kennedys se enquadrava nisso), mas hoje é um movimento com toda a sua ideologia.
    E alguém como esse cara já não pode ser considerado punk, imagine o pai.
    Só a minha opinião.

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